quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Chomsky no jardim lá de casa


Estela, com 3 anos observava o jardineiro "construir" o jardim da casa nova com aquela perguntação que vocês já conhecem:

-Que que cê tá fazendo?
O moço, mineiríssimo aceita o diálogo e responde:
-Tô trabalhando com as plantinhas.
-Você tá plantando?
-Isso mesmo!
E ela conclui categórica:
-Ah, então você é um "plantor"!

Eu corri pra anotar a história e achei uma graça. Tempos depois falando sobre "aquisição fonológica do português" essa história me voltou à memória quando um aluno perguntou:

-Por que é que a criança produz tantos erros desse tipo?
- Como é que uma criança pode produzir palavras que ela nunca ouviu?
- Isso acontece em outras línguas, ou só no português?

Eu achei essas perguntas tão lindas quanto à conclusão da Estela. Mas vamos lá.

Esse tipo de "erro" é chamado de supergeneralização de estruturas regulares. A criança tem contato com uma regra (quem canta é cantor, quem trabalha é trabalhador, quem vende é vendedor), interioriza essa regra e a superaplica a todas as outras formas, criando vocábulos novos. O grande barato é que é exatamente através desses erros que percebemos a criança se distanciando das hipóteses de imitação e produzindo palavras que ela "cria" sozinha, sem nunca tê-las ouvido antes.

Ponto pro erro de novo! É através do erro e não do acerto que se pode notar a transparência da relação da criança com a língua que ela está adquirindo.
Você deve ter várias histórias como essa. Quer me contar?

6 comentários:

Beth/Lilás disse...

A criança faz a coisa certa, ou seja, ela simplifica as coisas. Os adultos é que complicam e criam formas não só na linguagem como na vida, bem mais difíceis de seguir.
bjs cariocas

Anônimo disse...

Muito fofa essa sua história. adorei o plantor, mas no meomento não lembro de nenhuma dessa não, se a ggente não contar na hora, acho que fica pro esquecimento depois.

beijos

Andréia disse...

Lilás,
E o tanto que a gente descobre de significados diferentes para palavras antigas, com a meninada.
O José Paulo Paes tem um poema lindo sobre isso. vc me deu a idéia do próximo post.
Bj

Andréia disse...

Tpm, querida. É isso mesmo, a gente tem que escrever na hora. Mas, na hora, geralmente estamos rindo...
Bj

Anônimo disse...

quando minha sobrinha tinha uns 2 anos, descobriu a fita métrica. a maior diversão dela era vir arrastando a fita e pedir "midi!", isto é, para "medir" - qualquer coisa: altura, pé, nariz, braço...

Anônimo disse...

Ah, Andréia, e eu achando que você diria que isso se chama Poesia Infantil! Esses adultos que entendem de português, francamente...
:o)

Eu tenho várias, mas minha preferida é "bafor", que disse aos seis anos, depois de um banho super quente: "Tá um bafor aqui, né?". Deve ser o casamento do bafo com o calor, só pode ser.