sábado, 6 de setembro de 2008

Literatura para Crianças?




Existe literatura para crianças? Literatura infantil tem l minúsculo?
O assunto é polêmico, eu sei. Até aí, novidade nenhuma. Mas dêem uma olhada no texto que encontrei na revista Língua Portuguesa deste mês (apresentada a mim pela Érica, professora da Estela). O texto abaixo é da Carolina Costa.
MANUAL DO LIVRO INFANTIL IMBECILIZANTE
Conheça os sete pecados de uma obra literária para crianças
1. DIMINUTIVINHOS
Não é precisa escrever para criancinhas desse jeitinho: elas detestam que as tratem como bobinhas.
2. NOMES ÓBVIOS
Gato Miau, O cachorro Au Au, Borba a Leta e outras maravilhas da criatividade humana.
3. RIMAS MISERÁVEIS
Alguém prenda esses autores que rimam amores com flores e coração com paixão!
4. CRIANÇA-ADULTO
Poucos, como os criadores de Mafalda e Calvin, sabem fazer isso com a ironia e graça necessárias.
5. MORAL DA HISTÓRIA
Usar literatura para moralizar é coisa de autor que nunca teve infância.
6. DIAGRAMAÇÃO HISTÉRICA
Hiperlinks, curiosidades, fotos, ilustrações, linha do tempo, ufa! Cadê a literatura?
7. ILUSTRAÇÕES LITERAIS
Texto e ilustração devem se complementar e não ser redundantes. Se a imagem é uma mera transposição, para que ler?
Abaixo, um site para quem quer se aprofundar no tema:
www.dobrasdaleitura.com

6 comentários:

Diana Pádua disse...

Excelente post! Cheguei até aqui pelo blog da tia Batata, e gostei muito. Vou voltar mais vezes!

Bjinhos
Diana
www.dianapadua.com

............ ............ ............ ............ ............ ............ ... Rodrigo Vieira Ribeiro disse...

A pedido da minha mulher vou postar aqui uma crítica que escrevi no site da escola das nossas crianças. A crítica trata deste referido post e sobre uma peça que assistimos na época em que Andréia havia lido estes parâmetros e havia também postado este assunto por lá.

Originalmente postado em http://doceinfancia.ning.com/profiles/blog/show?id=2099501%3ABlogPost%3A2341 no dia 17 Junho 2008 às 11:34 com o título:

"Virou mexeu... caímos."

Diz um cliente meu, lá do Rio de Janeiro, que não importa o quão experiente você possa ser, o quanto você saiba sobre um determinado assunto ou produto.

Mesmo os mais experientes e conhecedores do assunto, os especialistas: Virou mexeu... são expostos (ou sofrem a exposição) à má qualidade ou fazem besteira.

Até os especialistas compram errado, contratam errado, vão à lugares errados... sob a ótica da especialidade é claro, pois em cultura não existe certo ou errado, existe o que acrescenta, o que não faz diferença e o que é melhor não perder tempo para ver.

(Se você descobrir mais uma classificação comente aqui por favor...)

Mesmo sabendo sobre os pecados para as obras infantis, tem vezes que não há informações suficientes em uma capa ou uma resenha para que possamos escolher sem erro.

Esta semana mesmo... soubemos da peça que ia passar no domingo... olhamos no Youtube, no Yahoo, tudo o que vimos de informação parecia ser muito legal.

Propaganda enganosa...

As crianças gostaram, mas gosto não faz parte de nenhum parâmetro avaliativo decente, pois como diz um velho ditado, gosto não se discute... se lamenta.

A peça "Gibi" que passou neste domingo(15/06/2008) no Centro Cultural Usiminas cometia com louvor TODOS os sete pecados descritos aí em cima. Parece que o autor seguiu o manual à risca!

Noções ambientais de baixo calão, rasas, óbvias, infantilizantes. Linguagem pobre, rimas tão ricas quanto um pano de chão esfarrapado e sujo. Mal ensaiado, desenho animado feito às pressas no limite da possibilidade do autor, narração e falas moralizantes. Nomes óbvios... enfim... só salvavam os bonecos e o cenário, muito bem feitos e bonitos, porém mal conduzidos.

Confesso que naquele dia eu preferia ter ficado em casa olhando para o teto e vendo a lagartixa caçando pernilongo... Seria mais educativo, teria mais trama e emoção, seria mais ecológico e nós não teríamos desperdiçado duas horas da nossa vida corrida com aquilo.

Penso que o espaço de mídia é muito caro para que seja desperdiçado com lixo. É um monento nobre, que damos atenção máxima ao que está passando.

- Ah... é fácil criticar, todos dirão, fazer é que são elas...

Exatamente, fazer é que são elas... e quem fez esta peça também não sabe fazer.

Para fazer a pessoa precisa ter critérios e um mínimo de auto-crítica para saber que fazer não basta.

Não é 'qualquer coisa' para suprir o 'nada' ou para ganhar a vida.
'Nada' muitas vezes é muito melhor que coisa ruim, e ganhar a vida deve ser um parâmetro de continuidade e não um momento único de faturamento.

Ainda mais em um espaço importante e caro como o nosso único teatro de 700 lugares, com agenda lotada para os próximos 12 meses.

Não culpo a direção de eventos do teatro, imagino que eles devam ter aceitado passar a peça com base nas mesmas informações que nós tivemos. Antes da peça eu também indicaria. Mas vale assistir as coisas antes de contratar... isso sim.

É o que meu cliente dizia... mesmo o melhor especialista também compra errado e é enganado.

O bom de ver lixo é só um: apredemos a valorizar as coisas boas.
Pode ser esta a estratégia dos nossos produtores de eventos...

Confiemos no futuro.

Marcia Pagani disse...

Meu nome é Márcia Moellmann Pagani e sou, com meu marido Sérgio Tastaldi, dona da empresa de produção teatral TURMA DO PAPUM, que apresentou o espetáculo GIBI, em Ipatinga, em junho deste ano.
Li somente no último dia 23 o comentário que você postou no nosso blog no dia 9 de outubro. Confesso que fiquei chocada com o desrespeito gratuito e a agressividade com que você e o Vieira de Melo se referiram a nós e ao nosso trabalho, que fazemos há muitos anos com muita preocupação em relação à responsabilidade que essa arte nos impõe, posto que levamos, através dela, não só divertimento, mas também mensagens para um público em fase de formação. Longe de achar que nosso trabalho é perfeito nem que deva agradar indiscriminadamente a todos, mas tenho certeza de que não somos merecedores de comentários tão grosseiros e superficiais. Ninguém o é.
O que me causou maior estranhamento é que, embora vocês estejam pretensamente avaliando trabalhos feitos para o público infantil, Vieira de Melo critica o gosto das próprias crianças, menosprezando os critérios delas. Por outro lado, fico feliz em saber que nosso trabalho foi bem recebido por elas, que são afinal nosso público e nossa paixão.
Mas, enfim, quem FAZ se expõe, está sujeito mesmo a críticas. Aliás, críticas sempre foram bem vindas, sejam feitas por pessoas gabaritadas pelo seu próprio trabalho e conteúdo intelectual, como Nini Beltrame, Olga Romero, Vladimir Capella, e muitos outros profissionais da área artística - aliás, não sei se adianta lhes falar dessas pessoas, é provável que não as conheçam – ou vindas de docentes ou do público em geral. Não só o GIBI como outros espetáculos nossos já foram submetidos a discussões de avaliação, tanto quanto às linguagens estéticas adotadas como quanto à sua dramaturgia, em festivais de teatro infantil e de teatro de bonecos. Tivemos também conversas edificantes com o Presidente da Federação Nacional dos Arte-Educadores, José Mauro Barbosa. Muito embora nosso trabalho seja dentro das artes cênicas, é sempre muito bem aceito entre arte-educadores. Temos, enfim, participado de discussões inteligentes que contribuem para nosso crescimento.
Mas vamos às nossas considerações sobre o que foi dito do nosso trabalho (filho), mais uma vez com humildade, mas também com a convicção de que estamos sendo injustiçados pelo modo baixo com que vocês colocaram suas “críticas”.
Partindo dos 7 erros que serviram como norte para suas observações, temos a considerar:
1 - DIMINUTIVINHOS:
Não encontrei nem no tratamento que nossos personagens adotam entre si e nem nos nomes próprios adotados pelos personagens.
2 - NOMES PRÓPRIOS:
O personagem principal do nosso espetáculo leva o nome de TICO, em homenagem à primeira história em quadrinhos brasileira, chamada TICO-TICO, que completou 100 anos de sua criação em 2005, quando estreamos o GIBI. Léa é uma homenagem pessoal minha à minha mãe, escritora e poetisa. O Labareda, vilão realmente ingênuo (eu não chegaria a chamá-lo de imbecil, como vocês fazem, mais pela deselegância do termo, mas ele é, de fato, um imbecil na sua ingenuidade), recebe esse apelido pela sua mania de brincar com fogo, acho que é coerente. O Super-X, vocês mesmos notaram que se trata de um canastrão, sátira a super-heróis que são veiculados principalmente na TV. Aliás, vou dizer a vocês bem mastigado: o verdadeiro "herói" da trama é o menino Tico. E é com ELE que as crianças se identificam. E não há nenhum Au-au nem Miau.
3 – RIMAS MISERÁVEIS:
Nas 4 músicas do espetáculo existe apenas uma rima que utiliza o sufixo “ão”: “diversão” com “herói de animação”, na música de abertura. Há, nessa mesma música, outras 3 rimas (“adrenalina” com “menina”, “aventura” com “dura”, “brincadeira” com “inteira”) . Nas outras músicas do espetáculo pode ser encontrado um total de outras 13 rimas, sendo que, na música do Pinguim, utilizei 9 palavras diferentes com a mesma terminação (“Pim-pim”, “pudim”, “nanquim”, “jardim”, “trampolim”, “pingüim”, “sem fim”, “assim”, “fim”), todas coerentes com o tema. Aconselho vocês a procurarem um otorrino.
As harmonias musicais, acrescento, não têm grande sofisticação, embora eu seja musicista e conheça estruturas harmônicas mais complexas. Assim como as letras, optei por fazer canções singelas (nunca simplórias) e alegres, visto que serão ouvidas uma única vez pelas crianças.
4 – CRIANÇA-ADULTO:
Não entendi a questão colocada ali: “Poucos, como os criadores de Mafalda e Calvin, sabem fazer isso com a ironia e graça necessárias.” Mas com certeza MAFALDA e CALVIN não são literatura dirigida para crianças. Experimentem ser um pouco ADULTOS-CRIANÇAS e respeitar a CRIANÇA-CRIANÇA e seus gostos. Aprendam com elas!
5 – MORAL DA HISTÓRIA:
Não sei a que moral vocês se referem, mas tenho convicção de que qualquer mensagem veiculada para crianças deve ser imbuída de bons princípios, coerentes com a atualidade e mesmo com uma cultura da Paz. Por exemplo: optamos por não castigar nossos vilões, dar a eles a chance da mudança. Não vou me aprofundar nos nossos princípios, vocês devem ter os seus (ou não...).
6 - DIAGRAMAÇÃO HISTÉRICA:
Embora tenhamos sido criticados em todos estes cabalísticos 7 erros, neste quesito, que me dou a liberdade de interpretar, dentro da linguagem teatral, como cenografia, parece que agradamos. Ufa! E nem crucificaram também nossos bonecos!
7 – ILUSTRAÇÕES LITERAIS:
Vamos chamar ilustrações as animações feitas para o espetáculo. Embora o Sérgio Tastaldi já tenha sido professor de desenho animado em escola própria e no MIS de São Paulo, tenha organizado feiras de animação no SESC Pompéia e no Centro Cultural S. Paulo, tenha recebido premiações internacionais com seus desenhos e vinhetas, tenha sido professor da Unicamp e chargista da Folha de São Paulo, ele quis neste espetáculo fazer uma animação mais estática, que reportasse não só aos gibis como a uma linguagem bastante comum em desenhos de “heróis”. Mas talvez vocês tenham razão, foi feito em menos tempo do que era o ideal, 45 dias, sozinho, ao mesmo tempo em que moldava e fazia os bonecos.
Além das considerações acima, quero ressaltar a minha estupefação diante de termos utilizados por vocês como “pseudo-autores”, “noções ambientais de baixo calão”, “propaganda enganosa”, “prendam esses infelizes”. Não tenho o que dizer. Eu esperava um mínimo de educação de pessoas como esse Vieira de Melo, que se diz “professor”. Aliás, procurei conhecer um pouco do seu perfil, o nome andréa é muito vago (por que será que você não coloca seu nome por inteiro?...). Não consegui encontrá-lo. Não sei se você tem alguma habilidade, se é criativa, se trabalha, se faz alguma coisa útil, ou se passa seus dias escrevendo blogs e olhando lagartixas. Vi apenas a sua foto, tirada de baixo para cima, querendo denotar uma grandeza que não se vê (propaganda enganosa?...)
Enfim: fiquem vocês sabendo que fomos convidados a nos apresentar em Ipatinga por uma artista e produtora local que assistiu ao nosso espetáculo GIBI num festival em Curitiba, não foi um conhecimento virtual. E agradamos tanto e a tantos na sua cidade (como às crianças que vocês mesmos desprezam) que a produtora do Festival da Criança nos convidou novamente e levamos outra peça teatral para Ipatinga (apresentações feitas nos dias 11 e 12 deste mês de outubro). É claro que vocês não foram nos assistir nos bairros pobres da sua cidade. Imagino que tenham ficado em casa apreciando as lagartixas que povoam suas paredes. Quem sabe até a degustá-las.

Andréia disse...

Prezada Márcia,
Muito obrigada pela sua resposta às minhas críticas. Estou cada vez mais convencida de que o espaço para o diálogo é o único caminho para a formação do espírito crítico.
Tentarei não responder aos seus ataques pessoais por que estou certa de que esta discussão nada tem de pessoal. Falei de um dos seus trabalhos. Não estou julgando suas características físicas ou preferências gastrômicas. E eu realmente nunca experimentei lagartixas, mas confesso que observar o traçado delas nas paredes, muitas vezes é uma experiência estética fabulosa. Mas realmente não estamos falando disso. Também não critiquei os problemas técnicos que vocês tiveram na abertura do espetáculo, nem do atraso para o começo da peça, pontos que eu poderia sim considerar desrespeitosos. Mas como o que se seguiu foi tão absurdo, do ponto de vista de qualidade em produção cultural para crianças, eu acabei considerando esses pormenores pequenos.
Prá começo de conversa, considerar uma obra boa porque teve casa cheia é um argumento falido. Então é bom “Bonde do Tigrão para crianças”? É bom porque vendeu muito? Você realmente concorda com isso?
Me senti no direito de criticar, já que, como platéia sou parte do processo criativo. Além do mais, paguei o ingresso e investi meu precioso tempo. Se não gostei, tenho mais do que direito de reclamar. Numa sociedade inclusiva eu tenho o DEVER de reclamar.
Espero que essa conversa esteja começando. Se você tiver interesse, creio que podemos falar sobre esse tema “qualidade da produção cultural para criança”. Nosso país é repleto de bons exemplos de artistas que tem trabalhos riquíssimos (desde Monteiro Lobato, né?) e teóricos gabaritados, com produção e debates substanciais sobre o assunto.
Tomara que você tope continuar conversando mas sem os ataques pessoais ou, aí sim, eu vou me considerar superior. A minha querida Carolina Costa, jornalista do “Guindaste” tem frase assim: “Rico é quem sabe defender seu ponto de vista sem ser grosseiro”. Não é assim que a gente cresce?
Um abraço

Marcia Pagani disse...

Andréa
O que eu tinha a dizer foi dito. Fiz uma longa defesa dos nossos parâmetros que vocês podem ou não levar em conta. Pense nisso: a minha agressividade não seria uma reação à grosseria com que vocês nos trataram? Não falo das críticas, mas do modo como foram colocadas (“prendam esse infeliz”, “pseudo-autores”, essas coisas, lembra? E postadas no site de uma escola!). O seu trabalho ser analisado e criticado é uma coisa. Ser depreciado e ofendido, outra. Me dou o direito de me sentir ofendida e de responder à altura da agressão. Trabalhar com Teatro, principalmente com a criação artística, minha cara Andréa, não é nada fácil! Está sujeito não só a difíceis políticas culturais e a exigências ridículas de patrocinadores (principalmente para nós, que buscamos sempre desonerar as crianças do custo das produções e atingir lugares mais desprovidos de atenção, ou seja, socializar o teatro, dependemos muito de patrocínios), como trabalhar no teatro está sujeito também a críticas diversas, o público que tem acesso ao nosso trabalho, afinal, é grande. Expomos nossos erros e acertos, enfim, “damos a cara a tapa”. Já comentei sobre isso, o fato de nos expormos a críticas, na minha resposta a você. Releia-a por favor. No momento só tenho a acrescentar para você que o atraso no início da apresentação do GIBI foi solicitada pela produção do Festival em respeito ao público que já havia comprado as entradas e não conseguia estacionar por causa de um evento que acontecia no shopping naquele dia. Estávamos prontos desde antes do horário, só aguardando o aviso de que poderíamos começar. A falha técnica foi acidente que contrariou as especificações da lâmpada do projetor. Lamentável, eu sei. Mas de forma alguma desrespeito voluntário ao público. Em relação a continuarmos essa discussão, digo que não tenho interesse. Acho que vocês já nos assistiram e têm sua opinião formada. E eu também tenho um tempo precioso que não quero perder com discussões que já começaram de modo tão negativo. Concordo plenamente com você quando diz que "rico é quem sabe defender seu ponto de vista sem ser grosseiro". Essa discussão já me fez muito mal. E você mesma falou que prefere assistir a lagartixas. Então vamos terminar isso por aqui. Seja feliz, na verdade não tenho nada pessoal contra você.

............ ............ ............ ............ ............ ............ ... Rodrigo Vieira Ribeiro disse...

Você citou algumas “pessoas gabaritadas de alto conteúdo intelectual”, do seu círculo de conhecimento, restritos ao espaço onde você vive, que, como lugar pequeno que também é, precisa e vive destes elogios da mesma forma que qualquer artista de província.

Realmente quem FAZ se expõe, o grande sábio Falcão concorda com você quando ele diz em sua famosa canção: “Melhor falar besteira do que ser mudo”.

Esperava que você tivesse opiniões e críticas de expoentes nacionais como Laura Sandroni, Ana Cláudia Ramos, Elizabeth Serra, Roger Mello, Marisa Lajolo, Eliane Yunes, Ricardo Azevedo, Peter O´Sagae, Daniel Pennac...

Considero edificante esta nossa conversa. Mas não preciso falar para você que ilusão é o maior problema de um artista. Muita gente que elogia, na verdade, está apenas te fechando os olhos para a realidade. O sucesso comercial não representa a verdadeira qualidade de uma obra artística.

Seu sentimento de mágoa eu compreendo e sou solidário, é difícil ler uma crítica ou escutar que seu filho é feio. Mas acredito que você seja inteligente e entenda que produzir teatro não é fazer coisas de baixa qualidade a toque de caixa, em 45 dias para apresentar ou obter um incentivo fiscal porque o prazo está terminando...

Seus argumentos trabalham contra você, demonstrando que sua sátira é obvia e gratuita, quase pastelão, tirando a possibilidade do seu público infantil de interpretar sozinho. Agindo desta forma você serve às classes que pretendem manter na ignorância o público brasileiro.

Vou tentar explicar novamente os 7 erros e tentar melhorar sua observação:

1 - DIMINUTIVINHOS:
Planetinha Tupi... não foi o único, mas gostaria de informar que os diminutivos não incluem apenas os vocábulos com terminação em “INHO” os reducionismos e infantilizações, no mau sentido no termo, que buscam simplificação não são adequadas ao desenvolvimento lingüístico das crianças.

2 - NOMES PRÓPRIOS:

Não falei em nomes próprios e sim sobre NOMES ÓBVIOS

Mais uma vez você não compreendeu a crítica e não leu integralmente o que dissemos.
TICO, é um nome óbvio, Labareda também é um nome óbvio.

A listagem de pecados capitais que usamos como referência também não é óbvia como nós também não fomos...

O personagem óbvio ofende a inteligência das crianças e sugere que no mundo predomina este maniqueísmo simplista e que consciência ecológica e desastres são provocados por pessoas exclusivamente malévolas, retirando a responsabilidade pessoal de cada um de nós.

Adorei sua explicação mastigada sobre o herói da história, confirma mais ainda a nossa crítica: Você realmente pensa que seu público não possui inteligência e subestima a capacidade das crianças e adultos de compreenderem o que você faz.

É exatamente o mastigado que nos incomodou, na primeira cena já sabemos no que vai dar a história...

3 – RIMAS MISERÁVEIS:
Eu nem me lembrava mais das suas rimas. Ao ler suas rimas em sua resposta pensei que se você não percebeu que usou apenas rimas de baixa qualidade poética ficará impossível levar esta conversa adiante.

A infantilização deste seu trabalho é óbvia. (encare infantilização como pejorativo e não como coisas de qualidade feitas para crianças)

Já que você nos aconselhou a procurar um otorrino, aconselho a você a ler mais sobre poesia, sobre roteiro e sobre interpretação e expressão, um psicanalista também vai bem.

Repito, suas canções são simplórias com muitos clichês e arranjos banais. Inspire-se e aprenda, por exemplo, com as músicas compostas para crianças de mestres como Helio Ziskind, Gustavo Kurlat, Palavra Cantada e Arnaldo Antunes. Nenhuma obviedade há nelas, seus arranjos são sofisticadíssimos e nem por isso são inacessíveis para as crianças.

Ao contrário... são músicas ricas e mantém o interesse com o passar do tempo.

E conceitue por favor o que é ser singelo...

4 – CRIANÇA-ADULTO:

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “nada existe dirigido apenas para crianças, existe literatura boa ou ruim” e o desrespeito aos gostos das crianças começa exatamente no seu pensamento de que precisa ser óbvia e pobre (se preferir singela) com elas.

5 – MORAL DA HISTÓRIA:
Exatamente Márcia, sua convicção demonstra como a sua classe social trabalha para manter as classes desprivilegiadas na ignorância.

Esta sua convicção “de que qualquer mensagem veiculada para crianças deve ser imbuída de bons princípios, coerentes com a atualidade e mesmo com uma cultura da Paz” é uma boa convicção, no entanto, ao ser óbvia, você retira a possibilidade da criança de pensar e decidir de forma autônoma o que é bom ou ruim para a vida em sociedade. Assim você contribui para o empobrecimento da cultura forçando às crianças das classes desprivilegiadas a se adaptar de forma dócil e pacífica aos absurdos praticados na sociedade pelos mais poderosos.

Ao não castigar seus vilões você opta por ensinar às crianças que é impossível mudar o estado de coisas e que os poderes podem viver livres sem qualquer possibilidade de serem responsabilizados pelos seus crimes.

O fato de você não aceitar nossa crítica e tentar banalizar nossos argumentos também demonstra claramente suas convicções ditatoriais e arbitrárias, condiz e é coerente com a sua produção artística.

6 - DIAGRAMAÇÃO HISTÉRICA:

Não é por que não criticamos que significa que agradou. Também não criticamos sobre o atraso de 30 minutos no espetáculo por encontrarmos erros mais graves...

7 – ILUSTRAÇÕES LITERAIS:
O currículo do designer e ilustrador torna o problema mais grave ainda e comprova aquilo que eu disse no início, mesmo os mais experientes também se enganam e fazem besteira. Lamento ele ter deixado de ser professor e chargista, coisa que, pelo que você disse, ele fazia muito bem.

Gostaria de completar que as características amadoras como trabalhar sozinho e em curto espaço de tempo não invalidam a crítica nem aumentam o valor do trabalho.

Quem está pagando ingresso vê apenas o produto final e, de boa intenção o inferno está lotado.

Vou repetir o que eu disse antes: Lei de Incentivo à cultura significa apenas que é o povo com seus impostos que pagam e o contribuinte precisa ficar atento aos amadores e pessoas que estão se aproveitando da falta de critério e de fiscalização da população para conquistar espaços nobres como estes.

Não penso que seja o seu caso, por isso escrevi a crítica, preocupado em uma melhoria de qualidade.

O amadorismo da produção me levou aos termos “pseudo-autores”, “noções ambientais de baixo calão”. A divulgação de vocês sobre um espetáculo de sucesso me levou às palavras “propaganda enganosa”, o fato de usarem a lei de incentivo à cultura para divulgar coisa tão ruim me indignaram a ponto de eu exclamar: “prendam esses infelizes!”.

Eu não escrevi nada que pudesse deixar qualquer pessoa consciente de suas atitudes “Estupefata”.
Se a deixei, me desculpo, não foi esta a intenção do comentário. Eu desejava de você uma atitude mais positiva com relação a esta crítica.

Vejo que você gostou da foto da minha mulher tirada pela nossa filha. Na época que tirou esta foto nossa filha tinha apenas 4 anos e já produzia arte de qualidade e não obviedades pobres. A visão real de uma criança sobre o mundo adulto precisa ser compreendida e aceita. Os produtores de arte devem parar de pensar que criança é banal, simples e de pensamento pobre (singelo).

Lamentável você querer reduzir nossa crítica questionando quem somos ou o que fazemos. Somos cidadãos brasileiros, conscientes dos nossos direitos e deveres, exercendo nossa liberdade de expressão e opinião e não ditadores arbitrários que, como você, desejam apagar as críticas para lucrar perante a falta de oposição.

Lamento novamente a escolha da produtora que os convidou, e insisto que ela não tem culpa. De qualquer forma não conheço os critérios que ela adotou para selecioná-los. O fato de terem agradado tanto ao público apenas confirma o que eu disse antes e repito: música como o “Kréu” também tem muita audiência e muita gente acha legal... mas você e eu sabemos que é um lixo cultural.

O retorno de vocês também foi lamentado por nós, pena não termos escrito isso em nossos blogs, o que demonstra não haver qualquer interesse pessoal entre nossa crítica e seu trabalho.

É claro que não fomos vê-los achatar a inteligência dos menos favorecidos, ainda pensamos que uma caçada de lagartixa possui mais trama, educação ecológica e inteligência que a sua peça.

Abraços
Rodrigo